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Paulo Paulino “Lobo Mau” Guajajara morreu após uma troca de tiros
próximo a Terra Indígena Arariboia, no Maranhão
Foto: Sarah Shenker/Survival International
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Ministério diz que o inquérito estava incompleto. PF concluiu que a causa foi um furto realizado pelos indígenas, enquanto a DPU alega 'equívoco' na conclusão das investigações.
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Márcio Gleik também morreu durante
a troca de tiros. Segundo a PF, ele estava
na terra indígena realizando atividades
de caça. — Foto: Divulgação
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Segundo o MPF, a devolução do inquérito aconteceu na última sexta (10), assim que foi recebido da Justiça Federal. O motivo é que o inquérito estava incompleto e faltando alguns itens, mas não foi informado quais eram.
Desta forma, o MPF reiterou que ainda não recebeu completamente o inquérito para analisar. Em nota, a Polícia Federal afirmou que ainda não teve conhecimento da devolução do inquérito.
Investigações
De acordo com o delegado da Polícia Federal, Nathan Vasconcelos, que conduziu as investigações, Antônio Wesley e Raimundo Nonato foram indicados por homicídio doloso – quando há intenção de matar – e por porte ilegal de arma de arma de fogo e caça ilegal. Segundo o delegado, os dois e Márcio Gleik estavam na região praticando atividades de caça. Um outro homem, Clayton Rodrigues Nascimento, foi indiciado apenas por porte de arma e caça ilegal.
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Laércio Guajajara foi atingido por disparo de
espingarda no braço e se recupera bem
Foto: Reprodução/TV Mirante
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Láercio Guajajara, índio que sobreviveu a troca de tiros, também foi indiciado no inquérito da PF. O indígena foi acusado de furto, de porte ilegal de arma e por dano causado nas motocicletas que foram apreendidas pelos índios com os não indígenas.
Ao G1, o Defensor Público da União, Yuri Costa, que atua na defesa de Laércio Guajajara, disse que há um grande equívoco por parte da Polícia Federal na conclusão das investigações. Para a defensoria, o caso tem uma relação com um conflito maior entre indígenas e não-indígenas que historicamente existe.
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Laércio Guajajara fala sobre o trabalho constante
travado pelos Guardiães da Floresta no Maranhão
Foto: Reprodução/TV Mirante
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“A conclusão da autoridade policial é equivocada, não corresponde aquilo que foi apurado durante o inquérito policial. O delegado concluiu que não há relação dos homicídios e interesses da coletividade indígena. Ele reduziu a um conflito privado, específico, ligado a furtos de motocicleta. Na opinião da Defensoria, isso descontextualiza tudo o que envolve um conflito histórico naquela região entre indígenas e não-indígenas”.
O defensor afirma que os indígenas não teriam furtado a motocicleta, mas que haviam apreendido ela para apresentar como prova para a Fundação Nacional do Índio (Funai) e denunciar as invasões que estavam acontecendo na região.
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Terra Indígena Araribóia no Maranhão.
Foto: Reprodução/TV Globo
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“A versão do Laércio Guajajara é que no dia em questão, o que aconteceu foi que durante a caça, encontraram quatro motos escondidas no mato e sabiam que eram de não-indígenas que se estavam ilegalmente na floresta. Eles [indígenas], dentro dessa estratégia de autoproteção, danificaram três das motos e estavam tentando levar uma para a Funai como evidência, já que eles estavam há dois dias na mata, sem bateria de celular para tirar uma foto. Daí, os não-indígenas viram, encontraram eles levando a moto, e aí houve o conflito que vitimou duas pessoas”, explicou.
Em nota, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) também repudiou a conclusão do inquérito e disse que a Polícia Federal desconsiderou o contexto dos conflitos entre indígenas e madeireiros na região.
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Quatro dos treze indígenas assassinados em
menos de quatro anos no Maranhão. — Foto: CIMI
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"O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) vem a público repudiar a conclusão da Polícia Federal na investigação da execução do indígena Paulo Paulino Guajajara e do ataque ao indígena Laércio Sousa Silva, baleado no braço, conforme divulgada pela imprensa. A Polícia Federal, ao reduzir o assassinato de Paulino Guajajara a um lamentável episódio de troca de tiros, desconsidera uma história de mais de 40 anos de conflitos com madeireiros nesse território, ao longo dos quais os indígenas vêm sendo assassinados e tendo seus territórios destruídos sem que nenhum assassino seja punido", diz a nota.
Após o crime, a Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular no Maranhão (Sedihpop) e o indígena Láercio Guajajara afirmaram que as mortes ocorreram em uma troca de tiros após uma emboscada dos madeireiros. Questionada pelo G1 sobre essa afirmação, a secretaria apenas informou ainda que não teve acesso à conclusão do inquérito.
Índios sob proteção
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Indígenas cercam homens que estavam em acampamento
montado na Terra Indígena Alto Turiaçu, com a finalidade
de desmatar a região — Foto: Lunae Parracho/Reuters
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Terra Indígena Arariboia
A Terra Indígena Arariboia é composta por etnias indígenas Ka’apor, Guajajaras e Awá-Guajás em um território com 413 mil hectares no sudoeste do Maranhão onde vivem 12 mil indígenas. Parte dessas tribos possuem Guardiões da Floresta, que são formados com o intuito de proteger a natureza, evitar invasões de madeireiros e incêndios.
Por G1 MA